Marina Fontanelli – Portal Namu

 

Para o filósofo Basílio Pawlowicz, só é possível haver espiritualidade quando cessarem os excessos da fé e da razão

Definir espiritualidade não é tarefa fácil, pois o assunto dá margem a inúmeras interpretações. Essa missão foi destinada ao filósofo e educador Basílio Pawlowicz no 3º Simpósio de Ciência, Espiritualidade e Saúde realizado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo no dia 30 de outubro. Para tentar compreender um pouco mais sobre o tema, Pawlowicz, que também é cofundador da Associação Palas Athena, elucidou, em entrevista exclusiva ao Portal NAMU, algumas questões pontuadas em sua fala sobre a mística da espiritualidade.

Portal NAMU: O que é espiritualidade?
Basílio Pawlowicz: Acredito que a espiritualidade é anterior às instituições religiosas. Ela reflete o nosso amor pelo mistério, pelo desconhecido. A espiritualidade começa em se reconhecer como mais do que um ser apenas biológico. Há uma tendência natural nas pessoas em procurar respostas para a pergunta: qual é a razão em nascer, sofrer e morrer? Mas se a gente não tem uma resposta sobre quem está por detrás das máscaras que a vida nos colocou, nós não vamos encontrar uma resposta feliz para esse questionamento que nos preocupa. A vida nos coloca máscaras de gênero, de idade, profissionais etc. Mas eu não sou nenhuma delas. Quem sou eu em realidade?

No fundo a vida é uma questão de escolhas. Nós somos o que nós escolhemos na vida. Somos consequências dessas escolhas. Se soubéssemos o que é importante, evidentemente que não escolheríamos qualquer coisa, tentaríamos escolher o que tem mais fundamentação racional, científica ou mística.

É possível unir razão e fé?
A distância entre a fé e a razão é algo que tem de ser encurtado. Tanto a razão como a fé se excederam em seus atributos e tentaram nos dizer: nós somos a única aplicação possível. E isso criou um embate, uma indiferença, uma distância e um sentimento amargo que está no coração de qualquer ser humano.
Por vezes todos somos racionais e por vezes todos somos homens de fé. Mesmo se você se manifestar como um ser absolutamente racional, seu fantasma é a espiritualidade. Já quem se dedica à espiritualidade tem como fantasma, como espectro que assusta, a racionalidade.
Quando não existirem mais os excessos da religião e os excessos da fé, nós teremos espiritualidade.

Como você vê a inserção da espiritualidade na área da saúde?
Platão afirmava que o erro dos médicos da sua época era separar o corpo da alma. Depois de 2.500 anos estamos voltando exatamente ao mesmo ponto, estamos compreendendo que o ser humano é muito mais que seu corpo.
Por muito tempo, houve uma censura contra todos os outros métodos que não fossem científicos, chamados de crendices e superstições, o que está sendo descontruído rapidamente tendo em vista os próprios avanços da medicina.

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