Roberta Lotti – Palas Athena

O pensador da pós-modernidade Michel Maffesoli fez uma brilhante passagem pela Palas Athena no Seminário “O Retorno do Sagrado”.

O auditório da Palas Athena precisou de cadeiras extras para receber os participantes do Seminário com o sociólogo francês Michel Maffesoli, que esteve na instituição para falar sobre um tema relacionado a um de seus livros. Desta vez, a tônica da aula de Maffesoli foi “O Retorno do Sagrado”, temática abordada em “A Ordem das Coisas”, seu último lançamento no Brasil.

Segundo o autor, estamos vivendo um abalo na crença da predominância da razão. Não se trata do abalo da razão, mas da razão como soberana. Estamos, portanto em pleno ressurgimento do imaginário, que está se desenvolvendo na vida individual e coletiva, e tem como uma de suas manifestações o Sagrado – ou “Sacral”, neologismo preferido por Maffesoli.

O sociólogo fala de uma defasagem entre a sociedade oficial – representada pelas instituições econômicas, educacionais e politicas que seguem o modelo do materialismo e a sociedade oficiosa, característica da pós-modernidade. Esta última é o universo dos jovens, portadores do presente e do futuro. O entusiasmo está no cerne desta geração, e valores como a simpatia, a empatia e a cooperação são expressões cotidianas deste entusiasmo.

A defasagem entre oficial e oficioso deflagra uma crise “societal”, pois perdemos a consciência e a confiança em quem somos. Esta é, segundo Maffesoli, a crise que ocorre agora entre modernidade e pós-modernidade. É como se a modernidade estivesse em um processo de saturação química, em que as moléculas se desestruturam, mas ao mesmo tempo entram em uma nova composição, dando lugar ao pós-moderno. Assim, alerta Maffesoli: “O fim de um mundo não é o fim do mundo. Pode haver impermanência com continuidade. Neste momento, precisamos de um pensamento autêntico que possa ser gerador, depois organizador e finalmente diretor de um tempo que está sendo gerado”.

Se o princípio moderno foi racionalista, materialista e tinha uma visão estritamente economicista, o princípio pós-moderno é holístico. “Chamo isso de materialismo místico”, explica o sociólogo. “O que se ressalta é o qualitativo, não o quantitativo. A criatividade, não a linearidade. Isso é o espírito da latinidade, é a revanche dos valores latinos na pós-modernidade”.

Ao traçar o percurso do racionalismo, Maffesoli afirma que na modernidade eliminamos todos os parâmetros humanos que não serviam à razão e ao utilitarismo. Absolutamente tudo estava submetido à razão. Em oposição, a pós-modernidade reintegra estes parâmetros que foram deixados de lado, como o onírico, o festivo, o lúdico, a imaginação, propondo a volta do imaterial, o repatriamento do gozo, a busca inconsciente pelo inútil.

“O que está em jogo atualmente é uma significação que não tem finalidade. Podemos falar de uma razão sensível, que promove o reencantamento do mundo para além da simples necessidade, mas para satisfazer o desejo”, finaliza o sociólogo.