Vera Lucia Paes de Almeida

 

Nessa época do ano sempre me lembro de minha mãe dizendo: “O Outono é minha estação preferida. Olhe o azul do céu como é mais profundo. Repare na luz do sol que faz as plantas e árvores brilharem de modo suave na brisa fresca. Há uma sensação de calma que envolve tudo”.

Todos os anos eu passei a esperar esse momento e prestar atenção no que dizia minha mãe. Passei a observar e descobrir novas características que guardava para mim mesma.

Hoje percebo que, além de me tornar mais ciente das características do clima e da natureza, eu recebi da minha mãe um presente inestimável. Eu me tornei consciente do Outono!

Há uma diferença fundamental entre estar ciente e ser consciente de algo. Estar ciente envolve a percepção sensorial, estética, afetiva e também a constatação intelectual de um fato. Não é pouca coisa! Mas, estar consciente é um nível mais profundo de conhecimento. O Outono passou a ser parte de mim!

A consciência do Outono é para mim uma experiência de beleza, memória e sensações impossíveis de explicar. Envolve minha infância, a alegria de minha mãe na sua juventude, a vivência de ser atravessada pela força da natureza e de me sentir una com tudo isso. Uma experiência maravilhosa que se repete sempre que a luz do Outono começa a brilhar.

Esse presente que recebi de minha mãe há muitos anos atrás eu gostaria de passar para vocês, como nas brincadeiras de criança de “passa anel”. A luz do Outono, assim como todas as coisas que realmente valem a pena, é eterna e faz parte de nós desde sempre. É dessas experiências que tiramos força para seguir em frente porque são elas que produzem uma luz que nada pode apagar!

Vera Lucia Paes de Almeida
Psicóloga e psicoterapeuta junguiana. Mestra em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e professora na Palas Athena.