Por Diva Pimentel
A Palas Athena nos presenteou na semana passada com uma nova tradução do livro “O Herói de Mil Faces” (2022), de Joseph Campbell (1904 – 1987). Campbell, um encantado dos mitos desde muito cedo, define seu caminho na vida através da “Jornada do Herói” (2003), jornada de si mesmo e do mundo humano. Ele nos deixou uma grandiosa obra sobre os importantes temas mitológicos universais desde as culturas ocidentais e orientais.
Para ele, os mitos nos guiam por meio de seus ritos pelo “curso inevitável da vida”, e desde os tempos primordiais pouca coisa mudou. Em sua maioria os mitos são de transmissão oral, organizam as sociedades e as orientam. Por meio dos símbolos, a universalidade dos grupos sociais frente às experiências humanas (sociais e psicológicas) são compartilhadas.
“Existe uma unidade fundamental no próprio seio da natureza” “A Jornada do Herói” (2003). São os arquétipos, imagens originárias, primordiais e atemporais. São as “Máscaras de Deus I, II, III”, publicado pela primeira vez em 1968. Graças aos mitos, os homens buscam se relacionar com o sentido de sua existência: nascimento, vida e morte. “Busca complementar um estudo do desenvolvimento histórico da mitologia e das diferenças religiosas da humanidade, destinado a complementar o retrato de correspondências intrigantes. “O Herói de Mil Faces” (2003)
Afinal, o mito passa na avenida e está presente no Carnaval?
A etimologia da palavra, carnaval, vem do latim tardio “carne levare”, que significa “adeus à carne”, significando o período de jejum. Outro sentido para a palavra é remover a carne. Aqui está presente a influência da Igreja Católica – Cristianismo incluindo a proibição da ingestão de carne durante a Quaresma. Como uma tradição que aos poucos foi perdendo sentido, a religião católica inclui essas festividades no ano litúrgico (590 d.C.)
De lá para cá muitos carnavais foram passando pela avenida e a cada ano se aprimoram na representação de nossa cultura, tradição, história, com inúmeros temas. Temas estes vão desde a crítica social, religiosa, mitos, ritos, política e homenagens a personagens com destaque na cultura.
Este ano algumas escolas de samba falaram sobre o livro Meu destino é ser onça (2009) sobre os Tupinambás, e uma outra escola de samba, sobre os Yanomamis A queda do céu (2010) e outros povos originários, e sua importância para a preservação da floresta.
Começando pelo samba enredo da escola G.R.E.S Grande Rio, podemos verificar a enorme riqueza do seu vocabulário no que tange os mitos, ritos e símbolos, salientando a onça, símbolo da alteridade, ligação entre o espírito – xapiri, o sagrado, o profano, o guerreiro e o antropofágico –, matar e comer. Para os Tupinambás o mito de criação é o que habita em todos os seres humanos e define o seu destino. Meu destino é ser onça é também dar um destino para as divindades indígenas.
G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro resgata a importância do povo Yanomami para a preservação da floresta e da Terra planeta onde todos habitam. Hutukara é a parte do céu que criou a Terra. Sua divindade, Omama, nos protege e protege a floresta, protege a terra. Na luta para a preservação da Floresta Amazônica, Napê luta pela sobrevivência e manda recados aos homens.
Sim, não só mito passará na avenida, como todo o legado de J. Campbell, que nos ajuda a reavivar a dimensão mítica da existência. Vivemos o mito e somos o mito. Os representamos e somos representados por eles, para além do Carnaval.
Diva Pimentel – Psicoterapeuta Junguiana, supervisora clínica com pós-graduação pela PUC-SP. Atualmente em formação pelo Instituto Dédalus em psicologia analítica e filosofia. Coordena grupos de estudos e cursos para psicólogos e médicos, sobre Teoria Analítica e Teoria Arquetípica. Cursos livres: SEDES, SBPA, IMPAR, UNISC – Morte e renascimento indígena. Escritora e Ambientalista. Participa de grupos de estudos dos clássicos da Literatura Mundial e Nacional – Classicando/SJC. Programa na Rádio e Tv Imprensa. “No divã com Diva Pimentel”. Ativista e Coordenadora do movimento “Salve o Bosque Betânia”. Mediadora e Conciliadora da Justiça pelo CNJ – Conselho Nacional de Justiça.
Foto: Lorrana Penna / Mídia NINJA
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