A respeito disso Gandhi afirma: “Pode garantir-se que um conflito foi solucionado segundo os princípios da não-violência se não deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte em amigos”. Isto revela uma ousadia intelectual que amplia nosso entendimento da condição humana, ao mesmo tempo que promove a criação de um número maior de alianças para fortalecer o tecido social sobre bases de convivência confiável que, por sua vez, abrem caminho para a Paz.

É oportuno lembrar que Gandhi testou suas idéias nos tribunais, em meio a manifestações populares inflamadas, no cárcere junto a dissidentes políticos, entre parlamentares e até com representantes da coroa britânica. Não é um teórico nem um acadêmico, mas um político, um cientista social e articulador paciente e persistente. Tampouco é um romântico que ignora a sedução que exerce em todos nós a sede de poder, de reconhecimento e de riquezas. Todavia, acredita firmemente na condição transformadora das forças espirituais que desencadeiam o legado das religiões, independente da cultura onde tenham florescido. Ele diz a respeito de mesmo: “Não sou um santo que se tornou político. Sou um político que está tentando ser santo”.

Referências inspiradoras da sua trajetória. Filho de mercadores, Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em 2 de outubro de 1869, na cidade de Porbandar, na costa ocidental do norte da Índia. Apesar da admiração que nutria pelo pai – administrador e funcionário público muito respeitado na comunidade – foi a personalidade de sua mãe, Putlibai, que exerceu influência definitiva na vida espiritual daquele que se tornaria Mahatma.

Profundamente religiosa e considerada santa pelo próprio Gandhi, na fazia um refeição sem rezar; freqüentava diariamente o templo; jejuava todos os meses com o propósito de purificação; impunha-se penitências que sempre cumpria e nunca deixava de atender com extrema boa vontade aos necessitados. Era devota do deus Vishnu, e observava os preceitos do hinduísmo com alegria e entusiasmo singular.

Esses preceitos estão contidos na Bhagavad Gita, que reúne harmonicamente todas as disciplinas fundamentais da complexa tradição religiosa indiana, e foi o livro de cabeceira de Gandhi até seus últimos dias. Ele recitava décor seus dezoito capítulos, e escreveu um extenso comentário sobre o mesmo à luz dos novos desafios que apresentava o século XX.

Entretanto, e paradoxalmente, é em Londres que toma conhecimento das riquezas oferecidas à humanidade pela sua cultura natal. É em Londres também que entra em contato com a Bíblia, identificando-se de maneira particular com o Sermão da Montanha; descobre as idéias de Tolstoi, Thoreau, Emerson, Ruskin e os socialistas utópicos, que estarão presentes na sua concepção política balizada pela ética e a justiça.

 

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