Denise Ribeiro – Palas Athena

O que é ser homem nos dias de hoje? É essa a pergunta que o curso O poder do masculino arquetípico – A psicologia masculina na visão de Carl Jung tenta responder. Voltado exclusivamente para homens, o curso aconteceu na Palas Athena, nas terças-feiras de abril. O professor, engenheiro e especialista em Terapia Jungiana Marcelo Jordão, que ministrou o curso, tratou dos perigos da idealização do comportamento masculino e dos caminhos para se obter um equilíbrio psíquico mais saudável.

Nesta entrevista, o professor fala sobre o conteúdo do curso e da importância do contato com o masculino arquetípico no interior de cada homem: “É preciso abrir espaço em nossa personalidade para a integração de aspectos desse símbolo primordial”, ensina Jordão.

1) O senhor afirma que os modelos tradicionais para o gênero masculino são agora chamados pejorativamente de autoritários, patriarcais e machistas. Há um jeito não-pejorativo de tratar o autoritarismo, o machismo e o sistema patriarcal?
Não, esses termos já denotam conceitos pejorativos. O que podemos questionar é se não estamos acostumados a classificar como autoritário, machista e patriarcal quase tudo o que possa caracterizar o aspecto masculino. Acredito que atualmente nossos ideais politicamente corretos acabam por usar esses rótulos para classificar a maioria das atitudes masculinas.

2) Pode dar exemplos de proibições e idealizações sobre o comportamento do sexo masculino? Quais delas mais afetam a autoestima dos homens?
Há, por exemplo, uma pressão contra atitudes assertivas e competitivas de um homem. Enquanto na mulher esse tipo de comportamento é em geral apoiado, no homem não é bem visto, mesmo sendo parte predominante do caráter dele. Esse homem corre o risco de ser tachado de arrogante e não cooperativo. Não estou falando em atitudes excessivas e, portanto, desequilibradas nesse sentido. Quero apenas ressaltar que existe uma pressão politicamente correta para pasteurizar as características masculinas, forçando os homens a buscarem a flexibilidade no lugar da assertividade e a valorizarem sempre os interesses do grupo em vez da competitividade – isso para ficar apenas nessas duas características.

3) Sentir-se perdido em meio às utopias modernas é um privilégio masculino?
Eu não chamaria isso de privilégio, mas, claro, a mulher também sofre com as utopias modernas. Acho que a mulher moderna também está perdida em seu equilíbrio psíquico devido aos valores concretistas e racionais de nossa atualidade. Além disso, o movimento de emancipação feminina acabou paradoxalmente masculinizando a mulher (empurrado-a a brigar por poder e assertividade), fazendo-a se distanciar de suas características femininas.

4) Como é possível retomar o contato com os próprios instintos?
Esse é um imenso desafio para o homem moderno. Com o desenvolvimento de nossa consciência e com o domínio de nossa vontade, nos distanciamos dos nossos instintos. Ao contrário das sociedades primitivas, o homem moderno possui um domínio excepcional de sua vontade – o que contribui para fortalecer nosso ego. Com isso, podemos nos concentrar num objetivo consciente e, por meio da disciplina, vencer nossos instintos quando eles querem “atrapalhar” nossos planos. Esse mecanismo de controle da vontade sobre o instinto fica evidente no caso de uma dieta, por exemplo.
Nós nos desenvolvemos tanto no sentido de dominar os instintos que acabamos nos desequilibrando psiquicamente. O homem moderno sofre com uma coleção de neuroses e ansiedades, pois ignora seus instintos e promove apenas seus planos e ideais conscientes.
Nossos instintos muitas vezes se manifestam de modo inconsciente. Nossos sonhos (janelas para nosso inconsciente) em geral mostram que queremos caminhar na direção contrária àquela definida conscientemente, ou ainda que desejamos coisas proibidas aos nossos valores. Esses conteúdos devem ser ouvidos e considerados para que se possa viver de modo mais equilibrado psicologicamente, sem tantas angústias e ansiedades.

5) Como Jung desenvolveu o conceito do masculino arquetípico? Em que medida esse arquétipo proporciona equilíbrio psíquico?
Em sua imensa experiência empírica de trabalho, Jung notou que determinados símbolos eram produtos espontâneos do inconsciente. Ele os denominou de arquétipos do inconsciente. Podemos citar como exemplo o arquétipo do herói e o da grande mãe, mas não há limites para essa lista. O masculino arquetípico pode ser tipicamente reconhecido pelas características de assertividade, competitividade e também a valorização da abordagem racional do mundo.
Um homem possuído por sua anima (sua contrapartida feminina inconsciente), outro arquétipo, precisará retomar o contato com o arquétipo masculino para alcançar o equilíbrio psíquico. Esse contato poderá livrá-lo (dependendo do caso) de uma insegurança constante ou de uma passividade excessiva.

6) Como reconhecer um homem que já atingiu esse equilíbrio?
Não sei. Acho arriscado buscar essa evidência em outra pessoa. Esse equilíbrio pode ser verificado apenas individualmente, de acordo com as demandas do inconsciente de cada um. A referência indicativa do equilíbrio está na saúde psíquica de cada homem e não necessariamente em alguma característica externa.

Em maio, o prof. Marcelo Jordão estará de volta na Palas Athena para ministrar um curso exclusivo para mulheres:
Parceria sem subjugação: conhecendo a psicologia masculina na visão de Carl Jung
10 a 31 de maio de 2016, terças-feiras, 19h30 a 21h30

Saiba mais: http://goo.gl/9uwUMh